Análise do mercado de tecnologia

Kevin Da Silva
7 min readOct 15, 2022

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Realizando as devidas introduções devo dizer que esse manuscrito tem como ideia propor uma análise sobre o estado atual do mercado de TI e contextualizar as dinâmicas da área.

A mais-valia descomunalmente gigantesca

Ao analisar a materialidade a nossa volta conforme estamos inseridos nas dinâmicas do mercado podemos notar o grande crescimento das empresas de tecnologia e o crescimento dos fundos de capital a ponto de gerarem quantidades de faturamento maiores que o PIB de grandes países e analisando também a história recente do desenvolvimento tecnológico podemos notar que a produtividade e o avanço da tecnologia avança a cada ano, mas ao analisarmos a dinâmica do trabalhador da área podemos notar que toda essa produtividade e avanço não acompanhou na mesma proporção a remuneração ao ver que a média de desenvolvedores experientes gira em torno de 11 a 15 mil mensais e também não teve impacto nenhum em suas horas trabalhadas, ou seja, podemos notar de forma cada vez mais clara que o avanço da tecnologia não age em prol do trabalhador da área que não tem seu salário aumentado na mesma proporção da produtividade e nem na diminuição em sua quantidade de horas trabalhadas que gira em torno de 40 horas semanais, o avanço da tecnologia acaba apenas beneficiando o detentor dos direitos de propriedade desse software e não á aqueles que produzem o software assim, não gerando impacto na qualidade de vida do trabalhador da área, mas alguns podem argumentar que algumas empresas vêm adotando a redução da jornada lentamente como uma consciência geral da área, mas em minha análise acredito que isso se dá devido ao segundo ponto logo abaixo.

O exército de reserva

O mercado de TI, é conhecido por necessitar de alta demanda de profissionais técnicos experientes e não dar conta de formar essa mão de obra conforme a demanda, então na busca por se destacar na atração dessa mão de obra algumas poucas empresas adotaram a redução de jornada não por uma consciência ou bondade para com seus trabalhadores, mas somente em ordem de atrair a mão de obra necessária para manter sua operação a toda capacidade.

Outro ponto que podemos notar é que em posições de entrada onde o exército de reserva é significativamente maior podemos ver que não há nem sequer um terço dos investimentos em atração e manutenção dessa mão de obra, pois ela não é tão atrativa ao capital, gerando uma alta procura por poucos postos de trabalho.

A exploração pelo capital estrangeiro

Ao não ter sua demanda por mão de obra plenamente satisfeita ou por buscar sempre reduzir seus custos com mão de obra para aumentar a mais-valia do processo de produção de um software, o capital estrangeiro, principalmente o estado-unidense, avança sob a mão de obra latino americana e é perceptível a propaganda de uma melhor remuneração visto que o salário local não acompanhou a mais-valia gerada pelo trabalhador a empresas locais o que quando a remuneração é mais alta acaba sendo atrativo a essa mão de obra vender sua força de trabalho ao capital estrangeiro por um preço que para o mercado local é significativo, mas para o capital estrangeiro se vê como um aumento grosseiro da mais-valia obtida pelo burguês visto que em média paga menos de um quarto de salario que um estado-unidense para obter o mesmo valor.

Porem, com a expansão do capital e com a necessidade constante de aumentar a mais-valia obtida a todo custo, não é raro notar que cada vez mais as empresas estrangeiras comecem a oferecer valores locais ou bem próximos dos valores que as empresas locais tem como base para remuneração, diminuindo cada vez mais os ganhos do trabalhador da periferia do capitalismo.

A ideologia

Claro que nesse ecossistema sempre pujante e dinâmico do mercado de tecnologia, com grandes bilionários e uma mão de obra não critica ao funcionamento do capitalismo moderno, a ideologia seria uma ferramenta bastante utilizada pela classe dominante para fazer com que os trabalhadores compactuem com a dinâmica ao inserir filosofias como o self-made e a cultura do empreendedorismo e da genialidade do indivíduo com uma ilusão de que não há trabalhadores, há criadores, colaboradores e o fato de Bill Gates e Elon Musk terem codificado algumas poucas linhas de código no pouco tempo que estiveram na faculdade faça do trabalhador o novo favorito a ser o próximo quando, na verdade, esse grande capital espalha cada vez mais seus tentáculos em diversas áreas para garantir o avanço de seus lucros acumulando cada vez mais recursos em uma ínfima e seleta burguesia.

Tem se também a ideologia de que o bilionário de tecnologia é um gênio e trabalhador incansável e que tomou todos os riscos e sacrifícios para atingir seu bilhão, mas ao analisar a conjuntura não existe nada de genialidade, existe em sua maioria a apropriação de conhecimento de pesquisa financiada pelo estado e o custo de produção desse produto também financiado pelo estado onde o risco acaba sendo todo do setor publico visto que a iniciativa privada é sempre amparada pela esfera pública.

E é claro podemos colocar o pequeno empreendedor sem networking e grandes financiamentos no próximo tópico

O avanço do grande capital sob a pequena burguesia

Conforme apontado em tópicos anteriores, cada vez mais podemos notar a concentração do mercado de tecnologia na mão de alguns poucos grupos empresariais gigantescos e com sua movimentação cada vez mais assediadora do pequeno burguês, os pequenos negócios acabam não tendo em sua maioria das vezes espaço de competição e tendem a ser ou compradas pelo grande capital, ou sufocadas pelo mesmo deixando o pequeno burguês que precisa ativamente trabalhar em sua empresa na iminência de voltar a ser um trabalhador assalariado

A limitação na inovação

Com o constante avanço do neoliberalismo a pressão por desfinanciamento por parte do estado em diversos setores da sociedade incluindo a educação gera um desfinanciamento em pesquisa e inovação sob o argumento falacioso de que a iniciativa privada será a responsável por financiar essas iniciativas, porém a lógica do capital segue o princípio do lucro considerando a natureza de projetos de pesquisa e inovação onde a maioria dessas iniciativas falham e sob uma lógica que prioriza lucro iniciativas de pesquisa e desenvolvimento acabam não sendo endereçadas pela iniciativa privada tornando o Brasil um dos países com mais unicórnios e também um país que menos inova tecnologicamente.

A exploração do trabalho não remunerado de código aberto

A gigantesca maioria das empresas de tecnologia se utilizam de código aberto para aumentar sua produtividade e por poderem se utilizar de código não remunerado aumentando assim suas taxas de lucro, pois reduzem seus custos com mão de obra qualificada, atualmente quase em sua totalidade os softwares em empresas do planeta se utilizam fortemente de projetos de código aberto cuja a manutenção é feita por desenvolvedores não remunerados como hobby, estudo, etc.

Gerando assim um faturamento bilionário, as empresas que se apropriam desse software, mas que não contribuem em sua manutenção e extensão.

O controle sob a mão de obra

Com o pós-pandemia surge uma certa consciência ao trabalhador da área de que sua função pode ser executada de forma 100% remota, mas, simultaneamente, existe um esforço de empresas de todos os tamanhos de instalarem o presencial ou um modelo hibrido novamente o que logicamente não teria nada em relação à cultura ou dinâmica de trabalho visto que a mesma se manteve durante a pandemia e até aumentou em produtividade e nem devido à economia de custos visto que se utilizar de escritórios é uma despesa a mais o principal fator da aplicação a força de regimes híbridos e presenciais tem somente o caráter de exercer dominação e controle sobre os trabalhadores da área e reforçando assim o caráter de dominador e dominado da sociedade atual

Alienação do trabalho

Todos os trabalhadores são expropriados do resultado de seu trabalho por não possuírem os meios de produção pelos quais eles são produzidos e devem comprá-lo novamente no mercado, porém em TI isso é ainda mais selvagem visto que um salário de um trabalhador de TI de uma vida toda muitas vezes não é nem próximo do custo de comprar o próprio software que o trabalhador produz, por exemplo, um software de meio de pagamento para comprá-lo custaria milhões ou muitas vezes nem estaria accessível ao mercado para a compra visto que seu caráter seria extremamente estratégico para o crescimento da empresa que o possui, tornando desenvolvedores não produtores do próprio software que produzem mas consumidores de subprodutos desse software e, em simultâneo, evidenciando a exploração gigantesca da força de trabalho visto que produzem algo que possivelmente nunca conseguirão possuir

O trabalho vivo e a não extinção do trabalho

Tem se também em alguns entusiastas da tecnologia que um dia o avanço tecnológico será responsável por erradicar a necessidade do trabalho humano dentro da dinâmica capitalista, porém isso é improvável ao vermos que em nenhum momento do avanço tecnológico chegamos próximos disso e o que ocorre é a abertura de outros postos de trabalho ou de mão de obra mais qualificada, ou mais precarizada, visto que um meio de produção não produz valor e somente o trabalho vivo de um trabalhador é o responsável por transferir o valor do meio de produção para a mercadoria.

Em TI a mesma máxima também é verdade, visto que o hardware mais potente e o software mais produtivo nunca produzirão nenhum valor e que dependerão fortemente de um programador para transferir o valor desse hardware/software para o produto em desenvolvimento, fazendo com que o trabalho vivo do programador que gere valor ao capital impossibilitando a completa extinção do trabalho humano

Conclusão

Com os pontos acima citados devo reforçar que não faço juizo de valor algum ou tento destruir sonhos e sim pretendo explicar uma dinamica que ocorre no mercado atualmente e ao mesmo tempo não busco remover as esperanças de nenhum colega trabalhador, mas sim explicar que a tecnologia não levará ao nosso avanço como especie e nem a emancipação de nossa classe e que a unica maneira de efetivamente mudarmos o rumo é através de uma mudança radical no modelo de produção atual e através de uma organização forte e uma luta estruturada da classe.

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Kevin Da Silva
Kevin Da Silva

Written by Kevin Da Silva

I'm a back-end developer, functional programming lover, fascinated by computer science and languages. From the south part of Brazil to the world